O audiovisual dos Vales do Aço e Rio Doce alcançou um marco histórico em julho de 2025. Durante os dias 19, 20, 25 e 26, as cidades de Coronel Fabriciano e Ipatinga sediaram o Seminário Polo Cine Vales, que reuniu mais de 100 participantes em oficinas práticas, mesas de debate e encontros estratégicos. O ponto alto foi o reconhecimento oficial do Polo Cine Vales como um Arranjo Produtivo Local (APL), concedido pelo Governo de Minas Gerais por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (SEDE).
O evento consolidou o Polo como uma das mais promissoras iniciativas de fomento à economia criativa no interior do estado, abrindo portas para a captação de recursos, ampliação da rede de produção e articulação de políticas públicas voltadas ao cinema regional.
Formação, Mobilização e Presença Institucional
Nos dois primeiros dias do seminário, a programação foi voltada à formação técnica, com oficinas destinadas a produtores, educadores, estudantes e realizadores locais.
Representantes de 26 municípios participaram, entre eles Leonardo da Cunha, ex-prefeito de Timóteo, o vereador Zezinho do Sinttrocel, Marlene Brum e Waldinei de Souza (de Coronel Fabriciano), e Vinícius Medina Pinheiro (de Ubaporanga), sinalizando o crescente apoio institucional ao audiovisual como política pública regional.
O cerimonial, conduzido por Carlos Gomes, destacou o envolvimento direto do Estado na criação do Polo, por meio da Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Vale do Aço (ARMVA), autarquia estadual sob a direção da Diretora Geral Christie Garcia.
Autoridades Estaduais e Reconhecimento como APL
Nos dias 25 e 26 de julho, o seminário recebeu a presença de importantes nomes da gestão pública cultural de Minas Gerais:
Maristela Rangel, Subsecretária de Cultura do Estado;
Matheus Rufino, assessor de audiovisual da Secult-MG;
Pablo Pires (Dom), gerente da Empresa Mineira de Comunicação.
O reconhecimento oficial como Arranjo Produtivo Local foi entregue por Fernando Abreu (SEDE-MG) ao coordenador do Polo, Elizeu Mol, que convidou os representantes da cadeia do audiovisual presentes ao palco para receber a certificação coletivamente.
Conexão com Universidades e Formação de Rede
A presença de instituições de ensino superior foi um dos pilares do seminário. Participaram da programação representantes da UFOP (ICEA – João Monlevade), UNEC (Caratinga), Unileste (professores Rodrigo e Trevisani) e UFVJM (Bruny Murucci), fortalecendo a articulação entre pesquisa, inovação e produção cultural. Essa rede acadêmica já colabora em iniciativas como oficinas, estudos e ações de formação continuada em audiovisual.
Presença de Cineastas e Tradição do Cinema nos Vales
Nomes de peso do cinema brasileiro participaram do seminário, como Lírio Ferreira (diretor de Baile Perfumado e Árido Movie), Éderson Caldas (Cine Documenta) e Sávio Tarso, que compartilharam experiências e dialogaram com o público local sobre linguagem, identidade e políticas de produção.
O evento também celebrou a trajetória do cinema na região, com destaque para o grupo Kinox, que articulava mostras e lançamentos com diretores renomados, e para a Associação Cultural Filminas, que há 21 anos atua no apoio à produção de curtas e longas-metragens. O legado do Kinox foi representado por João Costa e Fábio Brasileiro, e novas ações como o cineclube Vovó Ana Moura foram anunciadas, com apoio do professor Ronaldo.
Inspiração e Futuro: Cataguases como Referência
O gestor cultural César Piva, do Polo Audiovisual da Zona da Mata (Cataguases), apresentou os resultados do modelo de sucesso que já movimentou R$ 300 milhões em mais de 50 produções. Seu relato inspirou os próximos passos do Polo Cine Vales, que incluem:
Criação de três estúdios regionais de cinema
Lançamento de um festival regional de cinema
Formação continuada e oficinas técnicas
Fortalecimento de cineclubes
Produção de curtas e longas-metragens
Criação de uma Film Commission regional
Atração de produções nacionais e internacionais
Fomento, Editais e Recursos para o Setor
Durante sua fala, Matheus Rufino apresentou os 13 editais abertos da Secult-MG, que somam R$ 22,5 milhões investidos no setor cultural, e destacou o papel do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), com R$ 300 milhões disponíveis exclusivamente para Arranjos Produtivos fora do eixo Rio–São Paulo. A Secult/MG já articula um edital estadual para apoiar produtoras mineiras em projetos voltados ao mercado nacional e internacional.
Dom, da Empresa Mineira de Comunicação, reforçou a importância da qualidade técnica dos filmes, da infraestrutura de som e imagem, e do acesso a canais de distribuição pública, com alcance em mais de 800 municípios.
Film Commission e Acesso a Locações
As mesas de debate também abordaram a estruturação de uma Film Commission regional, com objetivo de mapear 1.200 locações em cidades dos Vales, oferecendo suporte logístico, autorizações e infraestrutura para filmagens. Essa iniciativa visa facilitar a vinda de grandes produções e consolidar a região como polo de filmagens no interior de Minas.
APL: Um Marco Econômico e Cultural O reconhecimento do Polo Cine Vales como Arranjo Produtivo Local (APL) representa uma virada de chave para o setor. Agora, o Polo passa a ser elegível para captação de recursos de entidades públicas e privadas, com potencial para integrar editais estaduais e federais — como os da Lei Paulo Gustavo, que investiu quase R$ 4 bilhões no setor audiovisual em todo o país.
Com uma cadeia produtiva que movimenta setores diversos — da tecnologia ao turismo, da cultura à infraestrutura —, o cinema se torna, nos Vales, uma estratégia de desenvolvimento econômico, geração de emprego, fortalecimento da identidade regional e promoção da inovação.
Convite a Novos Municípios O Polo Cine Vales está aberto à adesão de novos municípios. As cidades que desejarem integrar esse movimento poderão contar com ações diretas, como implantação de estúdios, capacitação profissional, apoio à produção, cineclubes, festivais e estruturação de ambientes de negócios audiovisuais.
É uma oportunidade concreta de transformar a vocação cultural dos Vales em economia criativa, inovação e renda local — um novo ciclo de desenvolvimento com base na força econômica do cinema.