niciativa é anunciada três dias após inauguração do portal milionário
BOM JESUS DO GALHO - No Dia do Trabalhador, os moradores de Bom
Jesus do Galho amanheceram com um comunicado oficial da Prefeitura, divulgado
nas redes sociais, informando que os exames laboratoriais nas unidades de saúde
estão suspensos durante o mês de maio — sem data prevista para
retorno. A medida, segundo o Executivo, visa “controlar o
fluxo” e “dar fim às filas” no sistema público de saúde.
A decisão provocou revolta na
população. Para muitos, o comunicado usa uma linguagem técnica e indireta que
mascara a gravidade da situação. “Eles não tiveram coragem de dizer com todas
as letras: ‘não vamos mais agendar exames’. Escrevem difícil, usam termos como
controle de fluxo, dar fim às filas, mas não explicam claramente para o povo
que o atendimento foi cortado. É uma forma de confundir, de não queimar tanto o
filme dele”, criticou um morador.
Outra moradora desabafou: “A
fila já é penosa, e agora querem acabar com a fila não atendendo. Dar fim às
filas não por competência, não atendendo as demandas, mas simplesmente
cancelando os exames. Isso não é controle de fluxo — porque o fluxo, assim, nem
vai existir. O povo não vai mais buscar os exames porque sabe que estão
suspensos. Isso é declarar a morte da população. É um absurdo.”
A indignação cresce diante do
contraste entre o corte no atendimento e o recente investimento em uma obra
milionária: na semana passada, às vésperas de maio — mês
dos trabalhadores e das mães, que são justamente as principais responsáveis por
buscar atendimento para os filhos e a família —, a Prefeitura inaugurou um
portal na entrada da cidade, ao custo de mais de R$ 1,5 milhão.
A obra, considerada por parte da população como desnecessária, ainda reforça
símbolos religiosos, incluindo uma cruz no topo da estrutura.
A escolha do símbolo reacende
a polêmica em torno do prefeito, conhecido por se apresentar como “padre”,
embora esteja, segundo informações, impedido pela Diocese de exercer funções
sacerdotais. Durante a cerimônia de inauguração, um locutor chegou a
descrevê-lo como “um dos líderes espirituais de Bom Jesus do Galho” — gesto
visto por críticos como tentativa de capitalizar politicamente a fé da maioria
católica do município.
“É revoltante”, resumiu outro morador. “Em vez de investir na saúde, cancelam exames. E gastam mais de um milhão numa obra que não salva vidas, não alimenta ninguém, não cuida de ninguém. No Dia do Trabalho, o trabalhador e as mães recebem como presente o abandono.” Até o momento, a Prefeitura não comentou as críticas.