domingo, 12 de outubro de 2025

“Não temos medo”: China ameaça contra-ataque pesado após tarifas de 100% impostas por Trump

 

A tensão entre China e Estados Unidos voltou a explodir neste fim de semana, após o presidente Donald Trump anunciar tarifas adicionais de 100% sobre produtos chineses e ameaçar impor controles de exportação sobre softwares e até aviões da Boeing. Em resposta, Pequim acusou Washington de agir com “dois pesos e duas medidas” e prometeu “medidas firmes e correspondentes” caso os EUA não recuem.

O Ministério do Comércio da China afirmou que o país “não quer lutar”, mas “não tem medo de enfrentar provocações”, defendendo-se contra o que classificou como abusos norte-americanos.

“A China exorta os EUA a corrigirem imediatamente suas ações equivocadas e, sob a orientação do consenso alcançado nas conversas entre os dois chefes de Estado, a preservarem os frutos das negociações arduamente conquistados”, declarou o porta-voz da pasta em entrevista coletiva neste domingo (12).
Segundo o governo chinês, a decisão de Trump “prejudica seriamente os direitos legítimos das empresas, abala a ordem do comércio internacional e compromete a segurança e a estabilidade das cadeias globais de suprimentos”.
A disputa pelas terras raras

A nova ofensiva de Washington foi apresentada como reação às medidas chinesas de ampliação do controle sobre a exportação de terras raras, insumos estratégicos usados em smartphones, carros elétricos, sistemas de defesa e tecnologias de energia limpa.

Pequim passou a exigir licenças específicas para produtos fabricados no exterior que contenham terras raras extraídas ou processadas na China. Na prática, a medida atinge quase toda a cadeia global — já que o país responde por cerca de 60% da extração mundial e 90% do processamento desses minerais.

Trump classificou a decisão como “extraordinariamente agressiva”, alegando que ela poderia “paralisar os mercados” e tornar a vida “difícil para praticamente todos os países do mundo”.

“Ninguém jamais viu algo assim”, escreveu o republicano em sua rede Truth Social, acrescentando que “a China não pode ser autorizada a manter o mundo como refém”.

Mas, para Pequim, o discurso de Trump não passa de retórica populista e tentativa de mascarar o declínio industrial dos Estados Unidos, que vêm perdendo competitividade em setores estratégicos há décadas.

Washington e o duplo padrão

O Ministério do Comércio chinês rebateu duramente as acusações, lembrando que a lista de controle de exportações dos EUA tem mais de 3.000 itens, enquanto a da China “possui apenas 900”.

“Há muito tempo, os EUA ampliam de forma abusiva o conceito de segurança nacional e usam indevidamente o controle de exportações, adotando medidas discriminatórias contra a China e impondo jurisdição unilateral extraterritorial sobre diversos produtos, como equipamentos e chips de semicondutores”, afirmou o porta-voz.

Pequim também destacou que o controle de exportações não significa proibição, e que todos os países foram previamente notificados sobre as novas regras por meio de canais bilaterais. Segundo o governo, o impacto econômico será “bastante limitado”.

“A China está disposta a fortalecer o diálogo e a comunicação com todos os países sobre controle de exportações, a fim de proteger melhor a segurança e a estabilidade das cadeias globais industriais e de suprimentos”, declarou o ministério.

Desde setembro, Washington vem intensificando suas sanções contra Pequim, alegando práticas “desleais” e até envolvimento chinês no comércio de fentanil — uma acusação sem provas, amplamente vista por analistas como tentativa de justificar novas barreiras.

Além das tarifas de 30% já em vigor, os EUA planejam dobrar a taxação para 100% a partir de novembro. A China, por sua vez, mantém tarifas médias de 32%, contra 58% dos EUA, segundo o Instituto Peterson de Economia Internacional.

O governo chinês também criticou o fato de Washington continuar ampliando suas listas de restrição, incluindo empresas e setores inteiros, mesmo após conversas telefônicas “positivas e construtivas” entre Xi Jinping e Trump.

“Adicionaram diversas entidades chinesas às listas de controle de exportações e de ‘nacionais especialmente designados’, expandiram arbitrariamente o escopo das empresas controladas e insistiram em implementar as medidas da Seção 301 contra os setores marítimo, logístico e de construção naval da China”, afirmou o ministério.
Guerra comercial às vésperas da APEC

As novas tensões ocorrem poucas semanas antes da cúpula da APEC (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico), marcada para este mês na Coreia do Sul, onde Xi Jinping e Trump devem se encontrar pela primeira vez desde o retorno do republicano ao poder.

Embora Trump tenha ameaçado cancelar a reunião, assessores da Casa Branca confirmaram que o encontro ainda está previsto.

*Com informações da AFP e Ministério do Comércio da China